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Reprodução: Agência dos Correios
 

26 de novembro de 2025 - Brasil

A crise financeira dos Correios atingiu um novo patamar e deve provocar forte impacto nas contas públicas em 2025. Segundo dados divulgados pela própria estatal e pelo governo federal, a empresa será responsável por mais da metade do prejuízo previsto para todas as estatais federais no próximo ano.

Prejuízo crescente e perda de mercado

Nos últimos dez anos, os Correios acumularam cinco exercícios com resultados negativos. Em 2024, o déficit ultrapassou R$ 2,5 bilhões. Já no primeiro semestre de 2025, o prejuízo somou mais de R$ 4 bilhões — podendo chegar a R$ 10 bilhões até dezembro, conforme comunicado interno enviado pela direção aos funcionários.

A deterioração financeira acompanha a perda de competitividade. A empresa, que já deteve cerca de 50% do mercado de encomendas, hoje ocupa apenas um quarto do setor, pressionada pela expansão de transportadoras privadas mais ágeis e tecnologicamente avançadas.

Impacto nas contas públicas

O governo federal previa déficit de R$ 6 bilhões nas estatais em 2025. Contudo, com o avanço do rombo dos Correios, o cálculo foi revisado para R$ 9 bilhões. Pelas regras fiscais, quando a meta é ultrapassada, o governo precisa compensar o excesso em outras áreas — o que levou ao contingenciamento de R$ 3 bilhões em gastos dos ministérios.

“Esse rombo alguém tem que pagar. E quem está pagando é o governo brasileiro. A solução para os Correios é complexa, porque envolve abrir mão de atividades nas quais não há capacidade de investimento. Em muitos casos, a privatização é importante”, afirma Paulo Feldmann, economista da USP e da FIA.

Plano de reestruturação: cortes, vendas e novos empréstimos

Para enfrentar a crise, o governo e a direção da estatal anunciaram um amplo plano de reestruturação. Entre as medidas previstas estão:

  • Programa de Demissão Voluntária para cortar cerca de 10 mil dos 83 mil funcionários;

  • Venda de mil agências deficitárias;

  • Arrecadação de até R$ 1,5 bilhão com a venda de imóveis;

  • Busca por empréstimos de R$ 20 bilhões;

  • Possibilidade de parcerias estratégicas, fusões e aquisições.

Segundo a empresa, cerca de 85% das agências próprias apresentam prejuízo. “Tem que fechar muitos desses pontos. É fundamental. Há muito sombreamento de unidades muito próximas”, afirma Márcio Holland, professor da FGV-SP.

Reestruturação é urgente — e talvez insuficiente

Especialistas concordam que a reestruturação é necessária, mas avaliam que ela chega tardiamente e pode não resolver totalmente o problema. Para alguns economistas, a entrada de capital privado seria essencial.

“Qualquer estatal precisa melhorar sua governança. No caso dos Correios, isso só melhora com participação privada, reduzindo a interferência político-partidária”, afirma Holland.

Feldmann reforça que a solução passa também por uma gestão profissionalizada: “Colocar uma equipe altamente competente à frente da empresa por um período determinado pode definir quais áreas poderão ser privatizadas e recuperar a eficiência.”

  • Afinal o que vai acontecer com os Correios?
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